quinta-feira, 24 de março de 2011

Marcha soldado!

Hoje conheci um senhorzinho de 80 e poucos anos chamado Mário, ele é muito sorridente e carinhoso. Há 2 anos, ele vem perdendo seu passado e as poucas coisas que construiu nele. Não reconhece seus filhos, sua mulher ou seus netos (inclusive eu). Restou muito pouco do antigo Mário: uma certa rejeição quanto às enfermeiras que dão banho nele e trocam suas roupas por serem mulheres e uma música! De todas as músicas que ouviu durante sua vida só sobrou "Marcha soldado, cabeça de papel, se não marchar direito vai preso para o quartel!"
É essa música que ele canta todo dia junto com as enfermeiras, antes de comer, de ir ao banheiro ou de ir ao jardim.
Por que essa música? Uma música infantil, que provavelmente ele aprendeu ainda na sua infância. A unica parte do seu passado completamente viva. Passado que eu nunca conheci e hoje sei que nunca vou conhecer.
Ao contrário do Mário de hoje, o avô que tive minha vida inteira nunca se permitiu muitas aproximações, sorriu pouco e eram poucas as demonstrações de carinho. Imagino eu, que meu avô sempre teve medo de ser preso no quartel!
Eu realmente espero que se um dia perder tudo que tenho, eu ainda cante:

"Se essa rua, se essa rua fosse minha 
eu mandava, eu mandava ladrilhar
com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes
para o meu, para o meu amor passar."

Um comentário:

  1. Nunca parei pra pensar qual a música que gostaria de lembrar se me esquecesse do que um dia fui.
    Uma reflexão a se fazer.
    Parabéns pelo texto, por descrever suas inquietações e despertar essas reflexões.
    Amo-te

    P.S: Às vezes me pego cantarolando essa mesma música. Talvez por tê-la ouvido em várias situações e sensações... não sei...

    ResponderExcluir