quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Sobre amadurecer

A tempos tão soltos
A tempos tão loucos
Há tempo
Aos poucos
Há tempo
Por pouco
Há tempos, há poucos
A o s  p o u c o s

Há pouco tempo.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Amaciante

Mais um trecho de "Sanidade":

Ando controlada por sonhos. Fico alucinando pelos meus caminhos usuais para suportar a dor dos últimos dias. Invento novas profissões, novos amigos, um novo visual , um novo namorado, uma vida completamente nova e excitante. A vida real só é completamente excitante nos primeiros minutos de um acontecimento novinho em folha. Um daqueles fatos deliciosos que mudam nosso olhar para a vida, pequenos encontros que deixam tudo diferente. Por isso, todo dia escolho viver esses momentos, ando pelas ruas sentindo o que sentiria com um cabelo completamente novo, uma tatuagem no ombro, trabalhando em uma peça maravilhosa ou no primeiro dia de namoro com aquele cara incrível. Não sei por que, mas esses sonhos acordados me fazem alucinar com os gestos mais simples.
Ontem, ao voltar para a casa de ônibus estava lendo “Memórias de minhas putas tristes” de Gabriel García Marquez . Não sei se foi a atmosfera da história, mas algo simples e mágico aconteceu. Um homem de voz grossa pediu licença para sentar ao meu lado, continuei lendo o livro até que senti um cheiro que me desconsertou inteiramente. Sua camisa cheirava sabão em pó e amaciante, aquele cheiro delicioso e aconchegante que sentimos quando acabamos de pegar uma roupa de cama limpa. Por alguns minutos só conseguia pensar naquela camisa, o tecido emaranhado pelo cheiro de limpeza, cheiro de casa. Me imaginei deitada no peito daquele homem sentindo cada fibra daquela camisa, aspirando o cheiro e buscando prendê-lo para sempre no meu pulmão, um modo de guardá-lo comigo.
Começando a acariciar sua barriga, tirei a camisa lentamente e aspirei a mistura deliciosa de amaciante e suor. Aquele homem tinha cheiro de lar, doce lar, cheiro de cama, cheiro de aconchego. Por absurdo que pareça, esses pensamentos me excitaram subitamente, sem que eu conseguisse segurar alguns suspiros baixos e ligeiras mordidas nos lábios. Eu mantinha meus olhos fixos no livro para não correr o risco de destruir minha ilusão. Não queria ver seu rosto, o homem que eu queria não tinha rosto, mas tinha aquela mão morena que estava a minha frente apoiada no ferro do banco da frente. 
Ele se movimentou e eu percebi que iria descer no próximo ponto. Tive então que olhar para seu rosto, minha consciência me dizia que não podia ter vivido aquele momento com um homem sem face. Tentei uma vez, mas sem coragem, voltei meus olhos para o livro. Ele enfim se levantou e eu fui obrigada a olhar o rosto do homem que tinha me excitado apenas com seu cheiro. Era bonito, uns 30 anos, moreno, cabelo curto enrolado e barba rala. Estava voltando para casa do trabalho com uma mochila, cara de pai de família. Sua filhinha já tinha ido dormir e sua mulher o esperava para requentar o jantar. Ele tinha cheiro de casa, ele tinha gosto de família, de sonho. Ele não era ninguém sem aquele cheiro. Seu cheiro foi meticulosamente escolhido pela sua amada mulher, que foi ao supermercado no início da semana e escolheu aquela marca de amaciante. Mal sabia ela que juntamente com o sabão em pó e com o suor de um dia de trabalho, aquele amaciante era, sem dúvidas, afrodisíaco. No sábado de manhã, ela lavaria cantando aquela mesma camisa, que nunca carregou nenhuma essência minha.

terça-feira, 20 de março de 2012

Correndo

Um dos trechos do meu texto "Sanidade" em eterna construção:




Corro, corro, corro em uma mesma direção, um foco, um objetivo. Milhares de passos ocupam minha mente. Arranco forças das solas de meus pés e esses pedem ajuda a minhas pernas, que em seguida são apoiados pelo meu tronco e braços, que por fim suplicam a minha cabeça.
Pensamentos me movem cada vez mais rápido, até que os pés não sentem mais que podem parar e seguem num ritmo frenético e mecânico. Preciso parar, uns minutos para um copo d’água. Quando finalmente meu corpo consegue desacelerar e tomar um copo gelado d’água em minha mão, me dou conta do tempo que fiquei sem pensar nos seus olhos. Quando corro, sou uma máquina... e máquinas não sentem dor. Nos meus pequenos momentos de pausa, percebo que o vento da corrida levou seu cheiro que estava impregnado em mim, a minha sede secou seu gosto e meus pés cansados apagaram seus passos. Meus pensamentos confusos e meu corpo cansado não me permitem lembrar os traços do seu rosto.
Tento lembrar e quase sinto saudade, mas minha respiração ofegante e meu coração disparado não me permitem tal privilégio. Olho o relógio, já está na hora! Preparo meus pés, estico meu corpo e dou a largada. Corro, corro, corro, calor, corro, escorro... Escorrendo pela epiderme você se esvai e evapora antes de chegar ao chão.
Um instantâneo adeus me vem à mente, mas quando corro, sou uma máquina... e máquinas não dizem adeus.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Morte lenta é daqueles que morrem por amo

Morre lento.
O coração que vive em desalento.
Morte que vem para os fracos.
Frágeis e iludidos românticos.
Vivendo de um amor idealizado.
Se atiram do precipício sonhando voar.
São incapazes de curar as feridas.
Incapazes de levantar do chão.
Sufocam-se com as próprias lágrimas.
Bebem do próprio sangue.

Maldito seja o corpo que envelhece
A alma que padece e o coração que adoece.
Maldito seja eu, poeta sonhador
Com conceitos distorcidos do que é amor.
Maldito seja eu, poeta ator.
Que me escondo entre máscaras.
Maldito seja eu, poeta invisível.
Coadjuvante de minha própria vida.
Bendito seja o amor virgem fênix.
Capaz de renascer das cinzas.


Maria Andrade - set/2010

domingo, 3 de julho de 2011

Novas coisas, coisas novas

Faz meses que não posto nada. Depois do meu último texto muitas coisas aconteceram, uma corrente de coisas ruins atravessou minha vida e me vi mais uma vez bem perdida. Apesar de tudo, tentei me manter forte não cair nos poços que já conheço.
Recentemente, novas brisas sopraram sobre mim. Tudo que parecia terrível foi amenizado e coisas novas e boas, muito boas apareceram.
Estou feliz por estar atriz. Estar com peças em cartaz, ter a oportunidade de conviver com diversas pessoas e aprender, aprender muito.

Cada vez que estou deitada no palco, no início de "Sappho de Lesbos", penso: "Antes e depois de tudo, é aqui que eu quero estar". É isso, é simples.
Procuro fazer o melhor do meu trabalho, procuro o reconhecimento do público e dos colegas, mas antes de começar a me botar pra baixo, questionar meu talento me lembro que estou onde quero estar.

Essa é uma sensação que nunca tinha sentido com tanta intensidade. As coisas estão sempre muito instáveis, mas com muito tesão sei onde estou e onde posso chegar.
Estou realmente apaixonada, suspirando pelos cantos. Apaixonada pelo teatro e por algumas pessoas incríveis, exóticas e encantadoras com quem tenho convivido.

Estou inventando paixões e reforçando meus amores! É tudo novo demais pra passar com calmaria, quero excitação e paixão, uma pitada de loucura não faz mal a ninguém.
Não estou poética hoje, nem trazendo nada de novo a ninguém. Escrevo a mim, que sempre procuro por lembranças de mim mesma.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Hora de migrar

Nossa! Que coisa cansativa essa tal de vida.
Estou exausta, muito cansada e sem forças. Por quê? Acordei assim.
Esses dias frios e chuvosos parecem sugar minha força, o pessimismo toma conta de mim e a vontade de sair da cama é mínima. Eu sei que parece choramingação, e é, mas não sei como explicar.
Se pareço desanimada demais e alguém percebe invento ou disfarço um motivo, mas não é nada é só um cansaço que toma conta de mim.
Hoje passei o dia inteiro pensando: "Por que não calo minha boca?" Disse coisas desnecessárias buscando uma atenção de quem não tem nenhuma obrigação.
Tenho medo de falar com qualquer um que vá me dizer: "Você tem que voltar a tomar os remédios!" Não quero ouvir isso. Não quero viver uma felicidade manipulada em farmácia para sempre!
Amanhã posso acordar bem, com pensamentos bem diferentes, ou não! Mas se eu optar por não tomar os remédios acho que terei de conviver com essa incerteza o resto da vida.
O que vou fazer se em momentos marcantes da minha vida eu acordar desse jeito? Não sei, mas acho que é uma dúvida que tenho que aturar.
Tenho vontade de migrar em dias assim. Os pássaros mudam de lugar quando o tempo muda, por que eu não posso?

Eu realmente espero acordar bem amanhã, ou pelo menos, acordar.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sonhos de luar

No último fim de semana voltei a ser perseguida por uma presença iluminada: a Lua. Vivi momentos incríveis com amigos, aproveitei a natureza e tudo que ela pode me oferecer.
Dançar forró a luz da Lua em uma praia onde não havia nenhum tipo de luz elétrica foi um momento com certeza inesquecível. Sentir a música me levar, a Lua me proteger e o mar me libertar é o tipo de sensação que quero levar para a vida inteira.
Desde então, sinto que a Lua está me olhando todas as noites enquanto vagueio por São Paulo. Em meio as minhas fracas crenças, creio ser olhada e protegida por essa força!
Agradeço a amigos que estão vivendo esse momento de mudança comigo, muitas coisas estão acontecido na minha vida profissional e pessoal.
Novos amores vem nascendo em mim a cada manhã e me fazendo sonhar, sonhar muito. Se for pra sonhar, que seja sonhos de amor! "Ninguém vai dormir nossos sonhos!"
Agora estou tentando superar os obstáculos da minha rua escura com a ajuda dessa luz que me cobre! Creio que bons ventos virão me levar para novos caminhos.

Cananéia- 17/04/2011

Evoé e que as boas forças nos acompanhem!