terça-feira, 20 de março de 2012

Correndo

Um dos trechos do meu texto "Sanidade" em eterna construção:




Corro, corro, corro em uma mesma direção, um foco, um objetivo. Milhares de passos ocupam minha mente. Arranco forças das solas de meus pés e esses pedem ajuda a minhas pernas, que em seguida são apoiados pelo meu tronco e braços, que por fim suplicam a minha cabeça.
Pensamentos me movem cada vez mais rápido, até que os pés não sentem mais que podem parar e seguem num ritmo frenético e mecânico. Preciso parar, uns minutos para um copo d’água. Quando finalmente meu corpo consegue desacelerar e tomar um copo gelado d’água em minha mão, me dou conta do tempo que fiquei sem pensar nos seus olhos. Quando corro, sou uma máquina... e máquinas não sentem dor. Nos meus pequenos momentos de pausa, percebo que o vento da corrida levou seu cheiro que estava impregnado em mim, a minha sede secou seu gosto e meus pés cansados apagaram seus passos. Meus pensamentos confusos e meu corpo cansado não me permitem lembrar os traços do seu rosto.
Tento lembrar e quase sinto saudade, mas minha respiração ofegante e meu coração disparado não me permitem tal privilégio. Olho o relógio, já está na hora! Preparo meus pés, estico meu corpo e dou a largada. Corro, corro, corro, calor, corro, escorro... Escorrendo pela epiderme você se esvai e evapora antes de chegar ao chão.
Um instantâneo adeus me vem à mente, mas quando corro, sou uma máquina... e máquinas não dizem adeus.

2 comentários:

  1. Sensacional. Me paralisou após ler a última linha!
    Sempre tão você em cada letra!

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  2. Como sempre, genial!
    Realmente a última frase nos faz parar de correr e pensar na vida, no que estamos nos tornando.

    Esse é meu eterno medo, virar uma máquina!

    Parabéns!

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